Sífilis congênita: diagnóstico precoce pode salvar a vida do bebê

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Considerada já uma epidemia pelo Ministério da Saúde, especialistas alertam sobre a importância do pré-natal para conter a doença

Após a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o Conselho Federal de Medicina e a Federação das Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) cobrarem publicamente a adoção de medidas urgentes para conter o avanço da sífilis congênita no Brasil, o Ministério da Saúde assumiu que atualmente o país enfrenta uma epidemia da doença e anunciou medidas para conter seu avanço. Entre 2010 e 2016 foram identificados 230 mil novos casos, sendo que 62,1% do total foram registrados na região Sudeste.

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) transmitida pela bactéria Treponema pallidum através de relações sexuais. O termo “congênita” é utilizado para designar uma doença adquirida pelo feto no útero da mãe. Nesse caso, a bactéria da sífilis ultrapassa a barreira placentária, infeccionando o feto. A doença é notoriamente perigosa, pois pode causar aborto espontâneo e parto prematuro”, informa a ginecologista e obstetra Carla Kikuchi, médica do Hospital e Maternidade Santa Joana.

Pré-natal e diagnóstico precoce
Um pré-natal adequado pode proporcionar um diagnóstico precoce para minimizar ou impedir as manifestações da doença na criança. Por isso, a gestante deve fazer o teste logo no início dos exames de rotina ao obstetra ou nas visitas aos postos de saúde. Em 2015, foram notificados 19.228 casos da doença em bebês, uma taxa de incidência de 6,5 por 1.000 nascidos vivos. De 1998 a junho de 2016, foram notificados 142.961 casos em menores de um ano.

A boa notícia é que nem todos os bebês infectados ainda no útero vão apresentar as alterações clínicas, avisa o médico especialista em infectologia pediátrica, Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Existem casos de sífilis congênita em que os bebês são assintomáticos, ou seja, não apresentam os sintomas. Aliás, felizmente esse fato corresponde à maioria das ocorrências. Entretanto, há casos, principalmente nos quais a infecção ocorre nos primeiros meses da gravidez. Nessa situação, as consequências são desastrosas, com um quadro bem dramático de alterações neurológicas, oculares, auditivas, ósseas e danos em vários outros órgãos”, explica o infectologista Marco Aurélio.

Em outras palavras, o bebê pode apresentar problemas como surdez, cegueira, deficiência mental, lábio leporino e até morte logo após o nascimento. A sequela depende do estágio da doença na mãe e do período gestacional no qual o feto foi exposto à infecção. “Quanto mais demorado o diagnóstico e o tratamento, maiores são os riscos de sequelas para o feto”, alerta a médica Carla Kikuchi.

Tratamento
De acordo com médico Marco Aurélio Sáfadi, o tratamento é majoritariamente realizado com a penicilina. Esse é o antibiótico de preferência dos médicos por ser de fácil acesso à maioria da população, além de ter uma taxa de segurança bem alta. E, o melhor, não prejudica o desenvolvimento do feto. Ainda de acordo com o médico, é possível minimizar ou até mesmo impedir essas manifestações na criança com um tratamento adequado durante a gravidez. Daí a importância de um pré-natal bem feito.

Sintomas da sífilis
A doença pode apresentar várias manifestações e estágios. Conheça quais são elas e seus respectivos sintomas:

Sífilis primária
Apresenta ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais da pele), que aparece entre 10 a 90 dias após o contágio. Essa fase não é dolorida e não apresenta pus, mas podem aparecer ínguas (caroços) na virilha.

Sífilis secundária
Caracteriza-se por manchas nas palmas das mãos e dos pés, além de apresentar ínguas pelo corpo, que surgem entre seis semanas e seis meses após o aparecimento da primeira ferida.

Sífilis terciária
Pode surgir entre dois e quarenta anos depois do início da infecção. Costuma apresentar sinais e sintomas, como lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

Sífilis latente
Não apresenta sinais ou sintomas. É dividida em sífilis latente recente (menos de um ano de infecção) e sífilis latente tardia (mais de um ano de infecção). A duração é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sintomas das formas secundárias ou terciárias.

Veja a campanha sobre os cuidados de prevenção da sífilis congênita elaborada pelo Ministério da Saúde:

Fontes:
Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, pediatra e especialista em infectologia pediátrica, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) (CRM-SP 54792)

Carla Ferreira Kikuchi Fernandes, ginecologista e obstetra, médica do Hospital e Maternidade Santa Joana (CRM-SP 112843)

MATÉRIA ORIGINAL:

Portal Click Bebê: https://clickbebe.net/sifilis-congenita-diagnostico-precoce-pode-salvar-a-vida-do-bebe/